Garimpando vídeos de cunho científico no site Youtube, me
deparei com esta entrevista do Prof. João José Bigarella, concedida em meados
de 2016, pouco antes do seu falecimento em 05 de maio deste mesmo ano, ao
Laboratório Móvel de Educação Científica da UFPR Litoral.
Tendo como tema os movimentos de massa ocorridos no litoral
paranaense em março de 2011, o Prof. Bigarella realizou análises brilhantes sobre o tema, dado o acúmulo
formidável de conhecimento que detém. No entanto, sem a pretensão de julgar ou desqualificar as
pessoas que mediaram a entrevista, nota-se um profundo despreparo dos
entrevistadores que teceram perguntas confusas conceitualmente ou insuficientes
para explorar ao máximo o potencial cognitivo do Prof. Bigarella.
Ponto forte da entrevista foi a análise das causas dos
movimentos de massa na Serra do Mar associadas ao diaclasamento de
descompressão na evolução do modelado geológico-geomorfológico da serra. O
processo de diaclasamento promove a formação de fissuras na subsuperfície das
vertentes, as quais sofrem diretamente os efeitos do intemperismo químico
formando camadas de argila. Em momentos excepcionais de precipitação
pluviométrica, de elevada intensidade e magnitude, a argila presente nestas fissuras se liquefaz tomando a forma de um fluído, detonando assim os
movimentos de massa. Por isso nota-se a distribuição desigual das cicatrizes ao
longo das vertentes como demonstra a foto abaixo tirada por Rodolfo Bonaldi .
Este foi o meu primeiro contato com
Avram Noam Chomsky. Nascido na Filadélfia em 1928, linguista e filósofo,
professor emérito do MIT, trata-se de um dos homens mais brilhantes do século
XX e atualidade. Apresenta uma nítida posição de esquerda em relação à atual
política externa e doméstica dos Estados Unidos. Crítico ácido do Estado à
serviço do grande capital, o qual atua em conluio com grandes empresas que controlam
os partidos políticos e reproduzem o sistema que amplia os ganhos financeiros
das grandes corporações com a manipulação da política.
No documentário, O Fim do Sonho
Americano, Chomsky aponta os dez princípios da concentração da riqueza e do poder
que de forma interativa reproduzem o atual cenário de profunda desigualdade
social observado em solo estadunidense e no mundo. Sua posição é clara em
relação às nefastas derivações deste processo que promove o desmonte da
solidariedade entre as pessoas que buscam satisfazer seus anseios de consumo em
detrimento da ajuda mútua entre os entes da humanidade. Segundo a ONG britânica
Oxfam (2017), as oito pessoas mais ricas do mundo concentram a mesma riqueza
que a metade mais pobre da população mundial, ou seja, estamos falando que oito
pessoas apenas possuem a riqueza somada de pelo menos 3,5 bilhões de pessoas.
Isto é estarrecedor!
Embora sua análise esteja focada nos
Estados Unidos, o contexto nada difere ou difere muito pouco do que se observa
no Brasil nos dias de hoje. Estamos vivendo neste início de 2017 um cenário de
crise econômica profunda permeada por uma crise política sem precedentes, bem
como um nítido racha entre as instituições representativas dos poderes da
República. A economia brasileira, construída nos últimos anos à base da mola
propulsora do consumo doméstico, está derretendo diante do endividamento das
famílias que sem poder de compra, entre outros fatores, alimentam um forte desemprego estrutural. Tal
período de forte consumo, até meados de 2010, se apresentava para as massas
como o momento brasileiro, a panaceia dos nossos problemas, enfim, o Brasil do
futuro havia chegado. Em relação à crise política, é importante mencionar a
indecente corrupção que pilha os cofres públicos dentro do sistema de conluio
entre o grande capital e o poder político.
Como consequência deste cenário de crise,
estamos observando uma precarização do emprego em termos de rendimento e
qualidade, bem como um desmonte sistemático de políticas sociais de habitação,
educação e saúde.
Uma crítica apontada por Chomsky
atinge à todos de forma implacável. Às vezes tenho a sensação de que vivemos
boa parte da vida somente em busca da aquisição de bens materiais e satisfação
pessoal. Compramos todo tipo de mercadoria que a ditadura da moda nos impõem e
entulhamos nossas casas com produtos que tal ditadura determina que precisamos
para sermos felizes. Tal comportamento, no bojo da globalização do consumo, destruímos
nossos ideais e respondemos exatamente conforme o atual sistema nocivo
determina e exige.
Estamos vivendo um momento um tanto
obscuro neste início de 2017. Hoje, 20 de janeiro, tomou posse nos Estados
Unidos o controverso presidente Donald Trump. Grandes preocupações pairam sobre
a comunidade internacional, com destaque para a possível retirada dos Estados
Unidos do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Sem a participação da
maior economia do mundo no acordo, as metas ficam intangíveis. O magnata propõe
a ampliação da produção econômica mundial, especialmente a produção econômica
estadunidense. Esta produção deverá ocorrer de maneira totalmente divorciada
das preocupações em relação às emissões de dióxido de carbono. Se isto ocorrer,
poderemos enfrentar nos próximos anos graves consequências
socioeconômicas-ambientais advindas da exacerbação dos extremos do clima. De
acordo com o Met Office, instituto de meteorologia do Reino Unido, 2016
apresentou um aumento de 1,14 graus celsius a mais que a temperatura média
global do período pré-industrial.
Este cenário ambiental catastrófico
parece estar sendo totalmente desconsiderado pelos “mestres da humanidade”,
como já dizia Adam Smith no século XVII, quando se referia aos atores
principais do mundo econômico. Tal desconsideração poderá sacramentar um novo
período de dificuldades neste início de século. Espera-se que a capacidade de
resiliência ambiental do planeta ainda não tenha entrado em colapso, caso
contrário, estaremos entrando numa nova era bem longe do equilíbrio dinâmico
necessário para a pulsação do nosso planeta.