Arquivo do blog

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O Quiromante da Terra


O Quiromante da Terra – João José Bigarella

            Garimpando vídeos de cunho científico no site Youtube, me deparei com esta entrevista do Prof. João José Bigarella, concedida em meados de 2016, pouco antes do seu falecimento em 05 de maio deste mesmo ano, ao Laboratório Móvel de Educação Científica da UFPR Litoral.
            Tendo como tema os movimentos de massa ocorridos no litoral paranaense em março de 2011, o Prof. Bigarella realizou análises brilhantes sobre o tema, dado o acúmulo formidável de conhecimento que detém. No entanto, sem a pretensão de julgar ou desqualificar as pessoas que mediaram a entrevista, nota-se um profundo despreparo dos entrevistadores que teceram perguntas confusas conceitualmente ou insuficientes para explorar ao máximo o potencial cognitivo do Prof. Bigarella.
            Ponto forte da entrevista foi a análise das causas dos movimentos de massa na Serra do Mar associadas ao diaclasamento de descompressão na evolução do modelado geológico-geomorfológico da serra. O processo de diaclasamento promove a formação de fissuras na subsuperfície das vertentes, as quais sofrem diretamente os efeitos do intemperismo químico formando camadas de argila. Em momentos excepcionais de precipitação pluviométrica, de elevada intensidade e magnitude, a argila presente nestas fissuras se liquefaz tomando a forma de um fluído, detonando assim os movimentos de massa. Por isso nota-se a distribuição desigual das cicatrizes ao longo das vertentes como demonstra a foto abaixo tirada por Rodolfo Bonaldi . 




Prof. Fernando Bonato

sábado, 21 de janeiro de 2017

Uma janela para o horizonte com Noam Chomsky



Uma janela para o horizonte

Este foi o meu primeiro contato com Avram Noam Chomsky. Nascido na Filadélfia em 1928, linguista e filósofo, professor emérito do MIT, trata-se de um dos homens mais brilhantes do século XX e atualidade. Apresenta uma nítida posição de esquerda em relação à atual política externa e doméstica dos Estados Unidos. Crítico ácido do Estado à serviço do grande capital, o qual atua em conluio com grandes empresas que controlam os partidos políticos e reproduzem o sistema que amplia os ganhos financeiros das grandes corporações com a manipulação da política.
No documentário, O Fim do Sonho Americano, Chomsky aponta os dez princípios da concentração da riqueza e do poder que de forma interativa reproduzem o atual cenário de profunda desigualdade social observado em solo estadunidense e no mundo. Sua posição é clara em relação às nefastas derivações deste processo que promove o desmonte da solidariedade entre as pessoas que buscam satisfazer seus anseios de consumo em detrimento da ajuda mútua entre os entes da humanidade. Segundo a ONG britânica Oxfam (2017), as oito pessoas mais ricas do mundo concentram a mesma riqueza que a metade mais pobre da população mundial, ou seja, estamos falando que oito pessoas apenas possuem a riqueza somada de pelo menos 3,5 bilhões de pessoas. Isto é estarrecedor!
Embora sua análise esteja focada nos Estados Unidos, o contexto nada difere ou difere muito pouco do que se observa no Brasil nos dias de hoje. Estamos vivendo neste início de 2017 um cenário de crise econômica profunda permeada por uma crise política sem precedentes, bem como um nítido racha entre as instituições representativas dos poderes da República. A economia brasileira, construída nos últimos anos à base da mola propulsora do consumo doméstico, está derretendo diante do endividamento das famílias que sem poder de compra, entre outros fatores, alimentam um forte desemprego estrutural. Tal período de forte consumo, até meados de 2010, se apresentava para as massas como o momento brasileiro, a panaceia dos nossos problemas, enfim, o Brasil do futuro havia chegado. Em relação à crise política, é importante mencionar a indecente corrupção que pilha os cofres públicos dentro do sistema de conluio entre o grande capital e o poder político.
Como consequência deste cenário de crise, estamos observando uma precarização do emprego em termos de rendimento e qualidade, bem como um desmonte sistemático de políticas sociais de habitação, educação e saúde.
Uma crítica apontada por Chomsky atinge à todos de forma implacável. Às vezes tenho a sensação de que vivemos boa parte da vida somente em busca da aquisição de bens materiais e satisfação pessoal. Compramos todo tipo de mercadoria que a ditadura da moda nos impõem e entulhamos nossas casas com produtos que tal ditadura determina que precisamos para sermos felizes. Tal comportamento, no bojo da globalização do consumo, destruímos nossos ideais e respondemos exatamente conforme o atual sistema nocivo determina e exige.
Estamos vivendo um momento um tanto obscuro neste início de 2017. Hoje, 20 de janeiro, tomou posse nos Estados Unidos o controverso presidente Donald Trump. Grandes preocupações pairam sobre a comunidade internacional, com destaque para a possível retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Sem a participação da maior economia do mundo no acordo, as metas ficam intangíveis. O magnata propõe a ampliação da produção econômica mundial, especialmente a produção econômica estadunidense. Esta produção deverá ocorrer de maneira totalmente divorciada das preocupações em relação às emissões de dióxido de carbono. Se isto ocorrer, poderemos enfrentar nos próximos anos graves consequências socioeconômicas-ambientais advindas da exacerbação dos extremos do clima. De acordo com o Met Office, instituto de meteorologia do Reino Unido, 2016 apresentou um aumento de 1,14 graus celsius a mais que a temperatura média global do período pré-industrial.
Este cenário ambiental catastrófico parece estar sendo totalmente desconsiderado pelos “mestres da humanidade”, como já dizia Adam Smith no século XVII, quando se referia aos atores principais do mundo econômico. Tal desconsideração poderá sacramentar um novo período de dificuldades neste início de século. Espera-se que a capacidade de resiliência ambiental do planeta ainda não tenha entrado em colapso, caso contrário, estaremos entrando numa nova era bem longe do equilíbrio dinâmico necessário para a pulsação do nosso planeta.

Prof. Fernando Bonato, 20 de janeiro de 2017.