EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
APOIADA ÀS GEOTECNOLOGIAS
Com o objetivo de construir a memória pedagógica dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos durante a graduação em Geografia pela Universidade Tuiuti do Paraná, segue abaixo um trabalho apresentado num seminário do curso de Pedagogia da UTP realizado em 2005. O teor do texto da época foi preservado.
UNIVERSIDADE
TUIUTI DO PARANÁ
COLÉGIO ESTADUAL PADRE CLÁUDIO MORELLI
ORIENTAÇÃO
Prof.
MSc. SANDRO JOSÉ BRISKI**
COLABORAÇÃO
Prof.
Maria Gorete Leiva Sturgia***
Prof.Marilda
Ortiz Guerra***
* Graduando em Geografia, Universidade Tuiuti do Paraná
** Professor da Universidade Tuiuti do Paraná
*** Professoras do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Diante da grave situação que se observa, de um modo
geral, em relação à qualidade dos recursos hídricos superficiais e
subsuperficiais incorporados às estruturas urbanas, esta proposta de trabalho,
busca associar a avaliação e recuperação de bacias hidrográficas,
geotecnologias e educação ambiental.
O trabalho, localizado na cidade de Curitiba,
capital do estado do Paraná, especificamente no bairro Umbará, realizado na
bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa, tributária da bacia hidrográfica
do rio Iguaçu, entre as coordenadas geográficas 25º 36’ 05,52” S e 25º 32’
50,07” S de latitude e 49º 18’ 05” W e 49º 15’ 08,59” W de longitude,
totalizando uma área de aproximadamente 11,907 km², Figura 01.
O trabalho insere-se na área da licenciatura no
contexto da educação ambiental, executado com alunos do ensino fundamental e
médio do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli em conjunto com a Universidade
Tuiuti do Paraná - UTP, parte da observação e análise dos principais elementos
geográficos concernentes a esta bacia hidrográfica visando a sua recuperação,
utilizando como suporte as geotecnologias.
FIGURA 01
Localização
da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Ponta Grossa
2. PROBLEMÁTICA
A falta da mata ciliar ao longo do ribeirão Ponta
Grossa pode estar colaborando para o transporte de materiais, naturais ou
antrópicos, para o curso hídrico causando a sua contaminação e assoreamento?
3. HIPÓTESES
A falta da mata ciliar pode estar
contribuindo com os processos erosivos na bacia hidrográfica do ribeirão Ponta
Grossa, desencadeando o assoreamento de seu leito principal.
Resíduos sólidos oriundos de
atividades antrópicas também podem estar chegando ao ribeirão devido à falta da
mata ciliar favorecendo sua degradação, que além de outras funções, atua na
contenção de dejetos sólidos descartados irresponsavelmente pela população.
A vazão das nascentes podem estar sofrendo
oscilações em função da falta da mata ciliar, que com a diminuição de sua
vazão, diminui também a autodepuração natural de efluentes lançados no curso
d’água.
4. OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral
O trabalho tem o objetivo de diagnosticar a relação
entre a falta da mata ciliar e a degradação no curso hídrico, provenientes de
fatores naturais ou atividades antrópicas. Também alfabetizar ecologicamente os
alunos quanto aos elementos constituintes de uma bacia hidrográfica,
considerando a importância da necessidade da preservação da mata ciliar bem
como aproximá-los de geotecnologias, apropriadas à avaliação e recuperação de
bacias hidrográficas.
4.2 Objetivos Específicos
Investigar
as espécies vegetais mais adequadas (nativas) para recompor a mata ciliar no
entorno da nascente do ribeirão Ponta Grossa.
Pesquisar
os benefícios da mata ciliar nas margens do curso hídrico e nas nascentes.
Identificar
a origem dos resíduos, particulados sólidos, que são lançados no ribeirão Ponta
Grossa.
Analisar
a relação entre a poluição do alto curso do ribeirão Ponta Grossa e as características
sociais da área, bem como a infra-estrutura de saneamento básico.
Correlacionar
de maneira sistêmica os principais elementos geográficos observados na bacia
hidrográfica que, condicionam a sua conservação e ou degradação, e
relacioná-los aos elementos existentes no alto curso do ribeirão Ponta Grossa.
Relacionar
a educação ambiental com as geotecnologias a partir do receptor do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) e softwares
ligados ao geoprocessamento.
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este trabalho baseia-se na
identificação dos principais elementos (físicos, químicos, biológicos e
sociais) existentes numa bacia hidrográfica, elementos que culminam na sua
degradação ou conservação ambiental, com ênfase da qualidade da mata ciliar no
entorno das nascentes do ribeirão Ponta Grossa e sua relação com o lançamento
de resíduos no referido curso hídrico.
Segundo
Mota, “bacia hidrográfica compreende a área geográfica que drena suas águas
para um determinado recurso hídrico”, e evidencia que “a qualidade da água de
um manancial depende, portanto, dos usos e atividades desenvolvidos em toda a
bacia hidrográfica”. ( 1995, p. 107).
Conforme
Francisco Mendonça,
A identificação da ocupação (elementos naturais) e uso (derivados das
atividades humanas) do solo, constitui-se em importantíssimo elemento num
estudo ligado à temática ambiental, pois o mais atualizado sobre uma localidade
auxiliará, dentre outros, a identificar e localizar os agentes responsáveis
pelas condições ambientais da área. (1999, p. 77).
O levantamento de dados socioeconômicos pode ser
feito, segundo Mendonça “ a partir de fontes secundárias (públicas e ou
privadas) e primárias – levantamento direto em campo por meio de questionários,
por exemplo”. (1999, p. 79).
Logo todo trabalho que vise a proteção ou
recuperação de um recurso hídrico deve considerar a integração dos elementos
geográficos constituintes de uma bacia hidrográfica, principalmente o solo e a
vegetação, onde concatenados de forma interdependente, interferem na sua qualidade
ambiental.
A
escolha pelo plantio de espécies nativas da mata ciliar no entorno da nascente
do ribeirão Ponta Grossa, partiu da importância que ela exerce na integridade
física, química e biológica do curso hídrico bem como o seu papel na
conservação do solo. De acordo com Angela da Veiga Beltrame,
A cobertura vegetal é um fator importante na manutenção dos
recursos naturais renováveis. Além de exercer papel essencial na manutenção do
ciclo da água, protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, aumentando a
porosidade e a permeabilidade do solo através da ação das raízes, reduzindo o
escoamento superficial, mantendo a umidade e a fertilidade do solo pela
presença de matéria orgânica, etc. ( 1994, p. 14).
A falta da vegetação pode
desencadear processos de degradação que se não estancados, podem vir a
comprometer a qualidade e o equilíbrio natural do recurso hídrico, como aponta
Suetônio Mota,
A vegetação representa um importante papel com relação aos
mananciais, pois é reguladora dos fluxos de água, controlando o escoamento
superficial e proporcionando a recarga natural dos aqüíferos. O desmatamento
ocasiona um desequilíbrio nesse sistema, resultando em: maior escoamento
superficial das águas; maior erosão do solo, com carreamento de materiais para
os recursos hídricos, provocando alterações ecológicas e assoreamento, com a
conseqüente diminuição da calha de escoamento ou da capacidade de armazenamento
dos mananciais; diminuição da infiltração da água para os mananciais
subterrâneos. ( 1995, p. 107).
As matas
ciliares são todos os tipos de cobertura vegetal, que margeiam rios e lagos e
outros corpos d’água construídos pelo homem. Pela sua importância na proteção e
conservação dos recursos hídricos, o Código Florestal Brasileiro, Lei 4771, de
15 de setembro de 1965 em seu artigo 2º considera a mata ciliar como Área de
Preservação Permanente e atribui a obrigatoriedade da existência de no mínimo
30 metros de mata ciliar para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura
em toda a sua extensão. Quanto às áreas de nascentes, ainda que intermitentes,
deve existir no mínimo 50 metros de vegetação ciliar. No caso do ribeirão Ponta
Grossa é notável a falta deste tipo de vegetação na montante, principalmente
nas nascentes, com exceção de alguns trechos mais à jusante do ribeirão. Diante
disto surge a necessidade de sua recomposição.
A adoção
das geotecnologias, como o uso do receptor do Sistema de Posicionamento Global
(GPS), constitui-se numa ferramenta eficaz na aquisição de coordenadas e
delimitação de áreas dentro da bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa,
alvo de estudos tanto de campo quanto de escritório.
Segundo, o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) “ atualmente o Sistema
de Posicionamento Global (GPS) com a constelação NAVSTAR (“Navigation System
With Timing And Ranging”), totalmente completa e operacional, ocupa o primeiro
lugar entre os sistemas e métodos utilizados em quase todas as aplicações em
geoprocessamento que envolvam dados de campo”. (1999, p. 18).
A aplicação do geoprocessamento permitirá
cruzar informações obtidas em campo, por meio da observação, com a confecção de
produtos cartográficos digitais visando a espacialização dos elementos
geográficos identificados na área da bacia hidrográfica do ribeirão Ponta
Grossa.
6. MATERIAIS E MÉTODOS
A execução do trabalho se dará em duas etapas: uma
em escritório e outra em campo. Parte da etapa de escritório, os alunos do
Ensino Fundamental e Médio do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli
participarão no levantamento de dados bibliográficos referentes a bacia
hidrográfica e mata ciliar, e demais componentes desta entidade ambiental.
6.1 Etapa de Escritório:
Inicialmente será investigado as espécies mais
adequadas para recompor a mata ciliar no entorno da nascente utilizando-se,
para tanto, bibliografias específicas e tomando como referência às espécies
existentes nas áreas em que a mata ciliar encontra-se preservada ao longo das
margens do ribeirão Ponta Grossa.
Junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP) será
solicitado a doação das mudas de modo a diminuir os custos do plantio.
Também será pesquisado e trabalhado, junto aos
alunos envolvidos, os benefícios que a mata ciliar proporciona ao curso hídrico
e ao meio ambiente de um modo geral, bem como os fatores de conservação das
margens do ribeirão desempenhados pela vegetação.
Com a delimitação da área a partir da aquisição de
coordenadas planas, será digitalizada toda a área da bacia hidrográfica do
ribeirão Ponta Grossa com o auxílio do software
AutoCad 2000 (Autodesk®)
e Spring 3.5 (INPE®) e
das cartas topográficas SG-22-X-D-IV-I-NE-D e SG-22-X-D-IV-I-NE-F na escala
1:10.000, ambas confeccionadas pela COMEC (Coordenação da Região Metropolitana
de Curitiba no ano de 1987), também será feita a delimitação da área do alto
curso do referido ribeirão objeto de estudos de observação e plantio das mudas.
6.2 Etapa de Campo:
Em função do alto curso do ribeirão Ponta Grossa
possuir grande quantidade de resíduos na sua calha, procurará estabelecer-se a
identificação destes resíduos quanto sua origem (naturais ou antrópicos) e
relacioná-los com a mata ciliar quanto à retenção destes materiais.
A partir de critérios como características de
edificação e atividades econômicas (primárias, secundárias e terciárias) existentes
no alto curso do ribeirão Ponta Grossa, almeja-se classificar a área quanto aos
níveis sociais e analisar se há relação entre o lançamento de resíduos e as
condições sociais da área. Para isto, será feito um levantamento por meio de
dados de órgãos públicos ou privados referentes à infra-estrutura existente na
área como coleta e tratamento de esgoto, coleta comum e seletiva de resíduos,
rede de tratamento e distribuição de água entre outras.
Através da observação em campo da área do alto curso
do ribeirão Ponta Grossa, os alunos farão uma relação dos elementos que
condicionam a conservação ou degradação deste setor da bacia hidrográfica a
partir de noções adquiridas teoricamente em sala de aula.
Com o Sistema de Posicionamento Global (GPS)
receptor tipo Garmin, a partir da
coleta das coordenadas planas, será delimitado uma área no entorno da nascente
do ribeirão Ponta Grossa para a recomposição da mata ciliar.
Descrição do
universo: o trabalho será executado com os alunos do ensino fundamental e
médio do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli, constituindo um universo de
aproximadamente 40 jovens.
A escolha do local de execução do projeto levou em
conta que muitos alunos moram dentro do recorte espacial estabelecido por esta
bacia hidrográfica, e deste modo, pretende-se construir um senso de observação
e análise da paisagem local por parte dos alunos envolvidos objetivando a
valorização do local.
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na
concepção do projeto, a sensibilização ambiental é a entidade fundamentadora
das atividades que prestigiam a ação ambiental, de modo que os conhecimentos
adquiridos em sala de aula pelos educandos sejam aplicados de forma prática no
intuito da recuperação ambiental de áreas degradadas. Diante deste contexto,
realizou-se no dia 26 de novembro de 2004 o plantio de 31 mudas de espécies
nativas com o objetivo de recompor parte da vegetação ciliar em um trecho
determinado do ribeirão Ponta Grossa.
Optou-se
por este trecho do ribeirão, uma vez que se encontra na montante da bacia hidrográfica
e está incorporado junto ao setor urbano da bacia com processos avançados de
erosão da calha em função da inexistência da vegetação ciliar. Deste modo, a
recuperação da vegetação ciliar na montante da bacia, proporcionará uma melhor
qualidade ambiental a jusante do ribeirão Ponta Grossa.
A
atividade foi executada com os alunos da 5ª série E, alguns alunos da 7ª série
B e determinados alunos do Ensino Médio, totalizando aproximadamente 35
educandos. Os alunos foram orientados por Fernando Bonato (executor do
projeto), professores Elaine de Cácia de Lima e Sandro José Briski (docentes da
Universidade Tuiuti do Paraná do curso de Geografia) e professoras Maria Gorete
Leiva Sturgia e Marilda Ortiz Guerra (docentes do Colégio Estadual Padre
Cláudio Morelli) tendo a cobertura pela RPC (Rede Paranaense de Comunicação).
Após o
plantio, realizou-se o georreferenciamento de todas as mudas por meio do
receptor de GPS (Sistema de Posicionamento Global) no intuito de espacializar a
área em que as mudas foram plantadas.
O
georreferencimento proporcionará o devido acompanhamento da evolução e
desenvolvimento das mudas, uma vez que a área sofre pressão por parte dos
moradores que utilizam a área para descarte inadequado de resíduos sólidos e
pastagem para animais domésticos.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELTRAME, Angela
da Veiga. Diagnóstico do Meio Físico de
Bacias Hidrográficas: modelo e
aplicação. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994.
CURITIBA: carta topográfica. Curitiba: COMEC,
1987. Escala 1:10.000.
IBGE. Noções básicas de cartografia. Técnicos
em Geociências, Rio de Janeiro, n. 08, p. 18, 1999.
MENDONÇA,
Francisco. Diagnóstico e análise
ambiental de microbacia hidrográfica.
Ra’e Ga, Curitiba, n. 03, p. 67-89, 1999.
MOTA, Suetônio. Preservação e Conservação de Recursos
Hídricos. 2. ed. Rio de Janeiro: ABES, 1995.
9. ANEXOS:
Ocupação irregular em Área de Preservação Permanente
Chegada ao local onde realizou-se a recomposição de parte da mata ciliar
Plantio das mudas na tentativa da recomposição da
mata ciliar
Um abraço!
Prof. Fernando Bonato
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