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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Trabalhos Acadêmicos - Memória Pedagógica


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS APOIADA ÀS GEOTECNOLOGIAS


    Com o objetivo de construir a memória pedagógica dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos durante a graduação em Geografia pela Universidade Tuiuti do Paraná, segue abaixo um trabalho apresentado num seminário do curso de Pedagogia da UTP realizado em 2005. O teor do texto da época foi preservado.

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ


COLÉGIO ESTADUAL PADRE CLÁUDIO MORELLI








ORIENTAÇÃO


  Prof. MSc. SANDRO JOSÉ BRISKI**




COLABORAÇÃO
Prof. Maria Gorete Leiva Sturgia***
Prof.Marilda Ortiz Guerra***



 

* Graduando em Geografia, Universidade Tuiuti do Paraná

** Professor da Universidade Tuiuti do Paraná

*** Professoras do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

        Diante da grave situação que se observa, de um modo geral, em relação à qualidade dos recursos hídricos superficiais e subsuperficiais incorporados às estruturas urbanas, esta proposta de trabalho, busca associar a avaliação e recuperação de bacias hidrográficas, geotecnologias e educação ambiental.
   O trabalho, localizado na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná, especificamente no bairro Umbará, realizado na bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa, tributária da bacia hidrográfica do rio Iguaçu, entre as coordenadas geográficas 25º 36’ 05,52” S e 25º 32’ 50,07” S de latitude e 49º 18’ 05” W e 49º 15’ 08,59” W de longitude, totalizando uma área de aproximadamente 11,907 km², Figura 01.
    O trabalho insere-se na área da licenciatura no contexto da educação ambiental, executado com alunos do ensino fundamental e médio do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli em conjunto com a Universidade Tuiuti do Paraná - UTP, parte da observação e análise dos principais elementos geográficos concernentes a esta bacia hidrográfica visando a sua recuperação, utilizando como suporte as geotecnologias.

FIGURA 01
           Localização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Ponta Grossa



2. PROBLEMÁTICA

          A falta da mata ciliar ao longo do ribeirão Ponta Grossa pode estar colaborando para o transporte de materiais, naturais ou antrópicos, para o curso hídrico causando a sua contaminação e assoreamento?

3. HIPÓTESES

       A falta da mata ciliar pode estar contribuindo com os processos erosivos na bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa, desencadeando o assoreamento de seu leito principal.
         Resíduos sólidos oriundos de atividades antrópicas também podem estar chegando ao ribeirão devido à falta da mata ciliar favorecendo sua degradação, que além de outras funções, atua na contenção de dejetos sólidos descartados irresponsavelmente pela população.
         A vazão das nascentes podem estar sofrendo oscilações em função da falta da mata ciliar, que com a diminuição de sua vazão, diminui também a autodepuração natural de efluentes lançados no curso d’água.

4. OBJETIVOS

          4.1 Objetivo Geral

       O trabalho tem o objetivo de diagnosticar a relação entre a falta da mata ciliar e a degradação no curso hídrico, provenientes de fatores naturais ou atividades antrópicas. Também alfabetizar ecologicamente os alunos quanto aos elementos constituintes de uma bacia hidrográfica, considerando a importância da necessidade da preservação da mata ciliar bem como aproximá-los de geotecnologias, apropriadas à avaliação e recuperação de bacias hidrográficas.

4.2 Objetivos Específicos


Investigar as espécies vegetais mais adequadas (nativas) para recompor a mata ciliar no entorno da nascente do ribeirão Ponta Grossa.
Pesquisar os benefícios da mata ciliar nas margens do curso hídrico e nas nascentes.
Identificar a origem dos resíduos, particulados sólidos, que são lançados no ribeirão Ponta Grossa.
Analisar a relação entre a poluição do alto curso do ribeirão Ponta Grossa e as características sociais da área, bem como a infra-estrutura de saneamento básico.
Correlacionar de maneira sistêmica os principais elementos geográficos observados na bacia hidrográfica que, condicionam a sua conservação e ou degradação, e relacioná-los aos elementos existentes no alto curso do ribeirão Ponta Grossa.
Relacionar a educação ambiental com as geotecnologias a partir do receptor do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e softwares ligados ao geoprocessamento.

  5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


 Este trabalho baseia-se na identificação dos principais elementos (físicos, químicos, biológicos e sociais) existentes numa bacia hidrográfica, elementos que culminam na sua degradação ou conservação ambiental, com ênfase da qualidade da mata ciliar no entorno das nascentes do ribeirão Ponta Grossa e sua relação com o lançamento de resíduos no referido curso hídrico.
Segundo Mota, “bacia hidrográfica compreende a área geográfica que drena suas águas para um determinado recurso hídrico”, e evidencia que “a qualidade da água de um manancial depende, portanto, dos usos e atividades desenvolvidos em toda a bacia hidrográfica”. ( 1995, p. 107).
Conforme Francisco Mendonça,

A identificação da ocupação (elementos naturais) e uso (derivados das atividades humanas) do solo, constitui-se em importantíssimo elemento num estudo ligado à temática ambiental, pois o mais atualizado sobre uma localidade auxiliará, dentre outros, a identificar e localizar os agentes responsáveis pelas condições ambientais da área. (1999, p. 77).

        O levantamento de dados socioeconômicos pode ser feito, segundo Mendonça “ a partir de fontes secundárias (públicas e ou privadas) e primárias – levantamento direto em campo por meio de questionários, por exemplo”. (1999, p. 79).
Logo todo trabalho que vise a proteção ou recuperação de um recurso hídrico deve considerar a integração dos elementos geográficos constituintes de uma bacia hidrográfica, principalmente o solo e a vegetação, onde concatenados de forma interdependente, interferem na sua qualidade ambiental.
A escolha pelo plantio de espécies nativas da mata ciliar no entorno da nascente do ribeirão Ponta Grossa, partiu da importância que ela exerce na integridade física, química e biológica do curso hídrico bem como o seu papel na conservação do solo. De acordo com Angela da Veiga Beltrame,

A cobertura vegetal é um fator importante na manutenção dos recursos naturais renováveis. Além de exercer papel essencial na manutenção do ciclo da água, protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, aumentando a porosidade e a permeabilidade do solo através da ação das raízes, reduzindo o escoamento superficial, mantendo a umidade e a fertilidade do solo pela presença de matéria orgânica, etc. ( 1994, p. 14).

A falta da vegetação pode desencadear processos de degradação que se não estancados, podem vir a comprometer a qualidade e o equilíbrio natural do recurso hídrico, como aponta Suetônio Mota,

A vegetação representa um importante papel com relação aos mananciais, pois é reguladora dos fluxos de água, controlando o escoamento superficial e proporcionando a recarga natural dos aqüíferos. O desmatamento ocasiona um desequilíbrio nesse sistema, resultando em: maior escoamento superficial das águas; maior erosão do solo, com carreamento de materiais para os recursos hídricos, provocando alterações ecológicas e assoreamento, com a conseqüente diminuição da calha de escoamento ou da capacidade de armazenamento dos mananciais; diminuição da infiltração da água para os mananciais subterrâneos.    ( 1995, p. 107).


As matas ciliares são todos os tipos de cobertura vegetal, que margeiam rios e lagos e outros corpos d’água construídos pelo homem. Pela sua importância na proteção e conservação dos recursos hídricos, o Código Florestal Brasileiro, Lei 4771, de 15 de setembro de 1965 em seu artigo 2º considera a mata ciliar como Área de Preservação Permanente e atribui a obrigatoriedade da existência de no mínimo 30 metros de mata ciliar para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura em toda a sua extensão. Quanto às áreas de nascentes, ainda que intermitentes, deve existir no mínimo 50 metros de vegetação ciliar. No caso do ribeirão Ponta Grossa é notável a falta deste tipo de vegetação na montante, principalmente nas nascentes, com exceção de alguns trechos mais à jusante do ribeirão. Diante disto surge a necessidade de sua recomposição.
A adoção das geotecnologias, como o uso do receptor do Sistema de Posicionamento Global (GPS), constitui-se numa ferramenta eficaz na aquisição de coordenadas e delimitação de áreas dentro da bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa, alvo de estudos tanto de campo quanto de escritório.
Segundo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) “ atualmente o Sistema de Posicionamento Global (GPS) com a constelação NAVSTAR (“Navigation System With Timing And Ranging”), totalmente completa e operacional, ocupa o primeiro lugar entre os sistemas e métodos utilizados em quase todas as aplicações em geoprocessamento que envolvam dados de campo”. (1999, p. 18).
 A aplicação do geoprocessamento permitirá cruzar informações obtidas em campo, por meio da observação, com a confecção de produtos cartográficos digitais visando a espacialização dos elementos geográficos identificados na área da bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa.

           6. MATERIAIS E MÉTODOS

         A execução do trabalho se dará em duas etapas: uma em escritório e outra em campo. Parte da etapa de escritório, os alunos do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli participarão no levantamento de dados bibliográficos referentes a bacia hidrográfica e mata ciliar, e demais componentes desta entidade ambiental.

6.1 Etapa de Escritório:


         Inicialmente será investigado as espécies mais adequadas para recompor a mata ciliar no entorno da nascente utilizando-se, para tanto, bibliografias específicas e tomando como referência às espécies existentes nas áreas em que a mata ciliar encontra-se preservada ao longo das margens do ribeirão Ponta Grossa.
           Junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP) será solicitado a doação das mudas de modo a diminuir os custos do plantio.
         Também será pesquisado e trabalhado, junto aos alunos envolvidos, os benefícios que a mata ciliar proporciona ao curso hídrico e ao meio ambiente de um modo geral, bem como os fatores de conservação das margens do ribeirão desempenhados pela vegetação.
Com a delimitação da área a partir da aquisição de coordenadas planas, será digitalizada toda a área da bacia hidrográfica do ribeirão Ponta Grossa com o auxílio do software AutoCad 2000 (Autodesk®) e Spring 3.5 (INPE®) e das cartas topográficas SG-22-X-D-IV-I-NE-D e SG-22-X-D-IV-I-NE-F na escala 1:10.000, ambas confeccionadas pela COMEC (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba no ano de 1987), também será feita a delimitação da área do alto curso do referido ribeirão objeto de estudos de observação e plantio das mudas.

6.2 Etapa de Campo:

       Em função do alto curso do ribeirão Ponta Grossa possuir grande quantidade de resíduos na sua calha, procurará estabelecer-se a identificação destes resíduos quanto sua origem (naturais ou antrópicos) e relacioná-los com a mata ciliar quanto à retenção destes materiais.
      A partir de critérios como características de edificação e atividades econômicas (primárias, secundárias e terciárias) existentes no alto curso do ribeirão Ponta Grossa, almeja-se classificar a área quanto aos níveis sociais e analisar se há relação entre o lançamento de resíduos e as condições sociais da área. Para isto, será feito um levantamento por meio de dados de órgãos públicos ou privados referentes à infra-estrutura existente na área como coleta e tratamento de esgoto, coleta comum e seletiva de resíduos, rede de tratamento e distribuição de água entre outras.
         Através da observação em campo da área do alto curso do ribeirão Ponta Grossa, os alunos farão uma relação dos elementos que condicionam a conservação ou degradação deste setor da bacia hidrográfica a partir de noções adquiridas teoricamente em sala de aula.
      Com o Sistema de Posicionamento Global (GPS) receptor tipo Garmin, a partir da coleta das coordenadas planas, será delimitado uma área no entorno da nascente do ribeirão Ponta Grossa para a recomposição da mata ciliar.
Descrição do universo: o trabalho será executado com os alunos do ensino fundamental e médio do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli, constituindo um universo de aproximadamente 40 jovens.
        A escolha do local de execução do projeto levou em conta que muitos alunos moram dentro do recorte espacial estabelecido por esta bacia hidrográfica, e deste modo, pretende-se construir um senso de observação e análise da paisagem local por parte dos alunos envolvidos objetivando a valorização do local.

           7. RESULTADOS E DISCUSSÕES


Na concepção do projeto, a sensibilização ambiental é a entidade fundamentadora das atividades que prestigiam a ação ambiental, de modo que os conhecimentos adquiridos em sala de aula pelos educandos sejam aplicados de forma prática no intuito da recuperação ambiental de áreas degradadas. Diante deste contexto, realizou-se no dia 26 de novembro de 2004 o plantio de 31 mudas de espécies nativas com o objetivo de recompor parte da vegetação ciliar em um trecho determinado do ribeirão Ponta Grossa.
Optou-se por este trecho do ribeirão, uma vez que se encontra na montante da bacia hidrográfica e está incorporado junto ao setor urbano da bacia com processos avançados de erosão da calha em função da inexistência da vegetação ciliar. Deste modo, a recuperação da vegetação ciliar na montante da bacia, proporcionará uma melhor qualidade ambiental a jusante do ribeirão Ponta Grossa.
A atividade foi executada com os alunos da 5ª série E, alguns alunos da 7ª série B e determinados alunos do Ensino Médio, totalizando aproximadamente 35 educandos. Os alunos foram orientados por Fernando Bonato (executor do projeto), professores Elaine de Cácia de Lima e Sandro José Briski (docentes da Universidade Tuiuti do Paraná do curso de Geografia) e professoras Maria Gorete Leiva Sturgia e Marilda Ortiz Guerra (docentes do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli) tendo a cobertura pela RPC (Rede Paranaense de Comunicação).
Após o plantio, realizou-se o georreferenciamento de todas as mudas por meio do receptor de GPS (Sistema de Posicionamento Global) no intuito de espacializar a área em que as mudas foram plantadas.
O georreferencimento proporcionará o devido acompanhamento da evolução e desenvolvimento das mudas, uma vez que a área sofre pressão por parte dos moradores que utilizam a área para descarte inadequado de resíduos sólidos e pastagem para animais domésticos.

        8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BELTRAME, Angela da Veiga. Diagnóstico do Meio Físico de Bacias Hidrográficas: modelo e aplicação. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994.
CURITIBA: carta topográfica. Curitiba: COMEC, 1987. Escala 1:10.000.
IBGE. Noções básicas de cartografia. Técnicos em Geociências, Rio de Janeiro, n. 08, p. 18, 1999.
MENDONÇA, Francisco. Diagnóstico e análise ambiental de microbacia hidrográfica. Ra’e Ga, Curitiba, n. 03, p. 67-89, 1999.
MOTA, Suetônio. Preservação e Conservação de Recursos Hídricos. 2. ed. Rio de Janeiro: ABES, 1995.


9. ANEXOS:

Ocupação irregular em Área de Preservação Permanente


Chegada ao local onde realizou-se a recomposição de parte da mata ciliar

Plantio das mudas na tentativa da recomposição da mata ciliar

Ocupação irregular ao longo da ferrovia que corta a bacia hidrográfica do Ribeirão Ponta Grossa



Um abraço!
Prof. Fernando Bonato











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