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sábado, 26 de julho de 2014

Caminho do Itupava: paisagens excepcionais entre o Planalto de Curitiba e a Planície Litorânea - Paraná - Brasil

              Um breve relato de caminhadas pessoais e excursões estudantis


        Até a inauguração da Estrada da Graciosa em 1873 e a inauguração da ferrovia Curitiba-Paranaguá em 1885, o Caminho do Itupava era a principal ligação entre o Planalto de Curitiba, também conhecido como Primeiro Planalto de acordo com Reinhard Maack, e a Planície Litorânea no Estado do Paraná. O caminho passou a ser utilizado intensamente a partir do final do século XVII por colonizadores que procuravam desbravar as terras do planalto em busca de riquezas à serem escoadas para a costa, no entanto, é plausível salientar a importância do caminho para os indígenas da região que sempre o utilizaram desde tempos remotos como via de comunicação entre as diferentes tribos do planalto e do litoral.  Segue abaixo a rota estabelecida pelo caminho atravessando as escarpas da Serra do Mar.


Traçado do caminho e seus atrativos


Início da trilha junto ao quiosque do Instituto Ambiental do Paraná (IAP)

Alunos e professores do Colégio Energia Ativa em 2013


            Partindo de Borda do Campo, Distrito do Município de Quatro Barras, Região Metropolitana de Curitiba, o caminho com aproximadamente 25 quilômetros, percorre todo o mosaico de transição entre a Floresta Ombrófila Mista - FOM (vegetação característica do Primeiro Planalto) e a Floresta Ombrófila Densa - FOD (vegetação característica da Planície Litorânea). Com uma amplitude altimétrica acentuada entre o início da trilha e seu término, 990 m.s.n.m (metros sobre o nível do mar) e 30 m.s.n.m., respectivamente. Este mosaico rico em espécies animais e vegetais, principalmente plantas epífitas como bromélias e orquídeas, se estrutura como um ecótono ou zona de transição ecológica entre a FOM e a FOD, denotando um ambiente rico e muito frágil,  conforme se observa nas fotografias abaixo.













         No início da trilha também destaca-se a presença de antigas pedreiras de onde se extraía granito para a produção de paralelepípedos. Nesta parte há uma presença marcante de uma vegetação degradada em processo de regeneração natural ou degradada de forma irreversível, inclusive com a presença de espécies exóticas, como o pínus que impacta ainda mais a região. Antes da trilha ficar mais fechada, destaca-se uma cachoeira que é utilizada para a captação de água e o Morro Pão de Loth, que por diversas vezes é impactado por incêndios.


Aspectos da pedreira abandonada



Cachoeira onde há captação de água à montante da mesma


Morro Pão de Loth

       Até a Casa do Ipiranga, o caminho apresenta o seu calçamento original onde se atravessa o rio de mesmo nome. Nesta parte do caminho, ponto onde o caminho cruza com a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, é possível descansar junto à cachoeira da "roda d'água" e também lamentar-se ao observar as ruínas da Casa do Ipiranga, tão importante em tempos remotos. Próximo às ruínas da Casa do Ipiranga, também encontram-se outras ruínas de instalações antigas da estrada de ferro, salientando a leniência do Poder Público com o patrimônio histórico e o descaso da empresa que assumiu a gestão da ferrovia após a privatização.
           A Casa do Ipiranga foi erguida para servir de residência para o engenheiro chefe durante a construção e manutenção da estrada de ferro e foi utilizada como moradia durante algum tempo pelo famoso pintor paranaense Alfredo Andersen que reproduziu diversas paisagens da Serra do Mar a partir deste recanto. Após a privatização da ferrovia no final do século passado e o consequente abandono da casa, vândalos reduziram a bela residência às ruínas.

                                      
                                                   Casa do Ipiranga em seu estado original

                                       

                                       

                                       





                                       
                                                              Ruínas da Casa do Ipiranga

          A Casa do Ipiranga situa-se à poucos metros da cachoeira roda d'água que outrora fora uma pequena central hidrelétrica que aproveitava o desnível do rio Ipiranga para gerar energia para a residência. Atualmente, existem no local apenas os destroços desta importante construção e configura um ambiente receptivo para banhos após o cumprimento da primeira etapa do caminho, como mostram as fotografias abaixo.





















          Após a Caso do Ipiranga, o caminho retoma o seu rumo em direção à Planície Litorânea até o Santuário do Cadeado. Ao longo deste trecho, um dos mais longos, a trilha atravessa terrenos de aclives e declives, sendo mais acentuado quando se aproxima do santuário, excelente ponto de parada para se deslumbrar com a paisagem que se descortina: a Planície Litorânea, o imponente Pico do Marumbi e o característico barulho das locomotivas quando as composições de cargas ou de passageiros passam pelo local. Numa noite quente de 2007, acampamos no santuário na companhia de revoadas de pernilongos, mas fomos contemplados com um esplêndido amanhecer como demonstram as fotografias abaixo.















Alunos do Colégio Energia Ativa em 2011


       A partir do Santuário do Cadeado, é possível continuar a trilha no seu trecho final com muitos declives até a estrada que interliga Porto de Cima com a Estação Engenheiro Lange ou seguir até à Estação Marumbi pela ferrovia, trecho não recomendável pelos riscos que oferece.












           Seguindo a trilha original após o Santuário do Cadeado, e após uma longa caminhada, chega-se à estrada que interliga a Estação Engenheiro Lange com Porto de Cima em Morretes, margeando o famoso rio Nhundiaquara. Após alguns quilômetros, chega-se em Porto de Cima, trecho final da caminhada onde é possível observar os contrafortes orientais da escarpa da Serra do Mar a partir da Planície Litorânea como o conjunto do Agudo do Cotia e Ciririca e o conjunto do Parque Estadual Pico do Marumbi.

Conjunto do Agudo do Cotia e Ciririca



Conjunto do Parque Estadual Pico do Marumbi

     Para finalizar, destaca-se a importância do desenvolvimento de um trabalho de identificação e revitalização de todas as estruturas históricas existentes ao longo do Caminho do Itupava, um pedaço da história paranaense que está se perdendo diante do descaso do Poder Público e de pessoas desprovidas de pudor que frequentam a trilha e que insistem em depredar este fantástico patrimônio.

Um abraço!

Prof. Fernando Bonato