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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A natureza dos pequenos detalhes

Todas as fotografias abaixo foram produzidas nos últimos cinco anos em caminhadas realizadas no entorno de minha residência durante diferentes épocas do ano. Sempre procurei caminhar na mata sozinho e sem pressa, sempre atento aos pequenos detalhes, com destaque para as flores, fungos e insetos. 
Os locais estão inseridos sob o domínio do bioma da Mata Atlântica (Floresta com Araucária ou Floresta Ombrófila Mista), especificamente na porção sul do município de Curitiba. As imagens provam que a natureza teima em resistir em meio à urbanização ou ao avanço dela.








































sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Aspectos Físicos, Bióticos e Antrópicos do Morro do Anhangava, Quatro Barras e Piraquara, Paraná

ASPECTOS GEOAMBIENTAIS DO MORRO DO ANHANGAVA

O Morro do Anhangava, situado nos limites do Parque Estadual da Serra da Baitaca, localizado entre os municípios de Quatro Barras e Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, pode ser considerado um verdadeiro laboratório à céu aberto para a realização de aulas de campo no âmbito das Geociências. Todos os anos, as turmas do curso de Gestão Ambiental da Faculdade Educacional Araucária e as turmas do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Energia Ativa, realizam a visita técnica ao morro sob minha orientação, onde procuramos aplicar a observação e a análise dos diversos aspectos físicos, bióticos e antrópicos que se apresentam no local. Nos anos de 2012 e 2013, contamos com a participação de meu grande amigo Anderson, professor de Educação Física do colégio e ex-militar do Exército Brasileiro, que compartilhou os seus conhecimentos sobre saúde, qualidade de vida e segurança em trilhas.  Lembrando que por uma questão de segurança, os alunos alcançam o topo através da trilha frontal e descem pela Trilha da Asa Delta.

                              Localização do Parque Estadual da Serra da Baitaca

            Prof. Anderson (Educação Física, esquerda) e Prof. Fernando (Geografia, direita)








As informações que caracterizam o Morro do Anhangava foram extraídas do Trabalho de Conclusão de Curso de Tiago Nunes, grande amigo que tive durante o curso de Geografia na Universidade Tuiuti do Paraná, entre os anos de 2002 a 2005). Uma curiosidade: a palavra anhangava significa "morada do diabo".
De acordo com Silva (1985), citado por Nunes (2005), a Serra da Baitaca está situada na borda leste do Primeiro Planalto, a sua gênese é a mesma da Serra do Mar, ou seja, está associada à separação dos continentes Africano e Sulamericano, cujo início ocorreu há mais de 200 milhões de anos. Decorrente desta dinâmica geológica, o relevo até a cota 1.000 m. s.n.m., é ondulado, e acima desta torna-se montanhoso e escarpado.
O Morro do Anhangava, ponto culminante da Serra da Baitaca, alcança 1.420 m. s.n.m., é geologicamente definido por BIGARELLA et al. (1985), como um “stock” granítico, capeado e rodeado pelas rochas migmatíticas e gnáissicas do Primeiro Planalto do Paraná.






De acordo com a classificação de Köeppen, o clima predominante na área de estudo é o Cfa, onde C significa clima quente e úmido; o mês mais frio de temperatura média compreendida entre –3º C e 18º C; f indica clima sempre úmido, sem estação seca, onde o mínimo da precipitação é superior a 60 mm por mês; e o a indica a temperatura do mês mais quente superior a 22º C. No entanto, para RODERJAN (1994), as altitudes situadas acima de 800/1.000 metros na Serra do Mar, podem ser enquadradas no clima  Cfb, que possuem médias térmicas inferiores e ocorrência de geadas no inverno, sendo b relativo à temperatura média do mês mais quente inferior a 22º C.
A presença de grandes escarpas, a proximidade do oceano e a influência dos sistemas atmosféricos, Tropical Atlântico e Polar, determinam a ocorrência de chuvas orográficas, proporcionando desta forma, grande nebulosidade, elevados índices pluviométricos e de umidade relativa do ar, que condicionam o estabelecimento de uma vegetação característica (RODERJAN e STRUMINSKI, 1992).
Nesta região, situam-se as nascentes dos rios Capivari Mirim, Ipiranga, Capitanduva e Iraí, contribuindo a oeste e ao sul para a formação da bacia do rio Iguaçu, a leste para a do litoral e ao norte para a do rio Capivari, integrantes dos sistemas de captação de água para a Região Metropolitana de Curitiba e do Litoral.
         
Muitos consideram a Serra do Mar como uma "grande muralha", entretanto, é plausível analisar que este conjunto montanhoso não é único, e sim formado por diversos conjuntos montanhosos menores separados por vales distanciados de forma significativa, com destaque para a Serra da Baitaca, Serra da Graciosa, Serra do Ibitiraquire, entre outros. Por estes vales ocorre a incursão de umidade a partir do Oceano Atlântico.
A Serra do Mar observada a partir de Curitiba apresenta uma elevação em torno de 600 m.s.n.m., no entanto, a partir do Litoral, observa-se um desnível de aproximadamente 1.000 m.s.n.m., logo constitui-se uma escarpa.


                                            Delimitação da Serra do Mar no Estado do Paraná


  Incursão de umidade entre os vales situados entre os conjuntos montanhosos

Serra do Mar observada a partir de Curitiba (Primeiro Planalto Paranaense)

Serra do Mar (Pico do Marumbi) a partir de Morretes (Litoral)

O Morro do Anhangava situa-se numa área de transição ecológica entre a Floresta Ombrófila Mista (situada na região do Primeiro Planalto, também conhecida como Floresta com Araucária) e a Floresta Ombrófila Densa (situada no Litoral, também conhecida como Mata Atlântica).
Segundo o IBGE (1992), a área do Morro do Anhangava apresenta zonas distintas de vegetação, definidas pela ação combinada dos fatores ambientais. A Floresta Ombrófila Mista Montana e a Floresta Ombrófila Densa, subdividida conforme a altitude e a latitude, em Floresta Ombrófila Densa Montana entre 1.000 e 1.200 m.s.n.m., Floresta Ombrófila Densa Altomontana entre 1.200 e 1.420 m.s.n.m. e ainda Refúgios Vegetacionais Altomontanos, representados pela vegetação rupestre, nas altitudes entre 1.250 e 1.420 m.s.n.m, como observa-se na figura abaixo.



Estratos Vegetacionais do Morro do Anhangava (NUNES, 2005)

Considerando os aspectos fisiográficos detalhados anteriormente, destaca-se o potencial do Morro do Anhangava para a realização de aulas de campo envolvendo os conhecimentos geográficos, tais como:
a) geologia, clima e geomorfologia da Serra do Mar, com destaque para a sua fragilidade potencial, vulnerável aos movimentos de massa em episódios críticos de precipitação pluviométrica como ocorreu em 2011, suas vertentes (retilíneas, convexas e côncavas), sua gênese geológica e sua dinâmica geomorfológica atual;

Apresentado as primeiras informações sobre a gênese da Serra do Mar

Parque Estadual Pico do Marumbi visto a partir do topo do Morro do Anhangava

Pico do Marumbi (foto acima e abaixo), notem ao fundo a Serra da Prata mais próximo do Litoral, arrasada em 2011 por intensos movimentos de massa


Serra dos Órgãos vista a partir do topo do Morro do Anhangava, notem o Pico Paraná no centro da fotografia

Morro Pão de Loth, visto a partir do topo do Morro do Anhangava

b) aspectos vegetacionais: Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Densa, Ecótono, vegetação rupestre e estratos vegetacionais;


Brinco-de-princesa (Fuchsia hybrida)

Zona do Ecótono (Floresta Ombrófila Mista com Floresta Ombrófila Densa)

Vegetação rupestre

Caraguatá (Bromelia pinguim)

Aspectos da vegetação próximo ao cume

Aspectos da vegetação descendo a Trilha da Asa Delta




Bromélia

Ipê anão (fotografia acima e abaixo)


c) recursos hídricos e abastecimento da Região Metropolitana de Curitiba, com destaque para a proximidade da Represa do Irai e da presença de diversos rios tributários deste sistema hídrico que ajuda no abastecimento público;

Represa do Iraí

Represa do Iraí, notem a cidade de Curitiba ao fundo

d) atividades antrópicas como as extrações de granito que ainda estão ativas na área do parque e a visitação frequente de públicos diversos ao morro que auxilia no processo de erosão e alargamento das trilhas. Destaca-se também a visitação frequente de escaladores em rocha, sendo considerado o Morro do Anhangava como “morro escola” para escaladas;

Áreas de extração de granito (acima e abaixo)


Escaladores em rocha

e) procurando mitigar o processo de degradação das trilhas, destaca-se algumas ações de recuperação de trilhas, principalmente na trilha da Asa Delta, onde existem diversos trechos onde escalonou-se a trilha na perspectiva de reduzir o efeito runnoff e a energia cinética da água.

Recuperação de parte da Trilha da Asa Delta

f) por fim, destaca-se a presença de uma fauna exuberante na região, embora não seja tão fácil observá-la devido ao grande movimento de visitantes.




REFERÊNCIAS
BIGARELLA, J.J.; LEPREVOST, A.; BOLSANELLO, A. Rochas do Brasil. Livros Técnicos e Científicos. Curitiba, 1985.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro). Sistema brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – SNLCS. Levantamentos de Reconhecimento dos Solos do Estado do Paraná. Curitiba: EMBRAPA, SNLCS/SUDESUL/IAPAR, Tomo I e II, 1984.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Série Manuais Técnicos em Geociências, n. 1. Rio de Janeiro: IBGE, 1992.
MORATO, R. G.; KAWAKUBO F.S.; LUCHIARI, A. O Geoprocessamento como subsídio ao estudo da Fragilidade Ambiental. In: X Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. 2001.
ROSS, J. L. S. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.8, p. 63-74, 1994.
RODERJAN, C.V.; STRUMINSKI, E. Serra da Baitaca – caracterização e proposta de manejo. FUPEF/FBPN, Curitiba, 1992.
RODERJAN, C.V. O Gradiente da Floresta Ombrófila Densa no Morro Anhangava, Quatro Barras PR. Aspectos climáticos, pedológicos e fitossociológicos. Curitiba, 1994. Tese (Doutorado em Engenharia Floresta) – setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.
SILVA, A.B. Sistemas de Informações Geo-referenciadas: Conceitos e fundamentos. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 1999.
SILVA, E. et al. O impacto ambiental das pedreiras de granito da região da Serra da Baitaca (Pr). In: II Simpósio sul-brasileiro de geologia. Florianópolis, 1985.
TRICART, J. Ecodinâmica.  Rio de Janeiro: IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977.
VITTE, A. C.; SANTOS, I. Proposta metodológica para determinação de "unidades de conservação" a partir do conceito de fragilidade ambiental. Revista Paranaense de Geografia, Curitiba, n.4, p. 60-68, 1999.